domingo, 30 de maio de 2010

A falta de conhecimento sobre criação publicitária





























Presenciei ano passado uma conversa que revoltaria a qualquer profissional formado ou estudande de Publicidade e Propaganda. Disse um veterano do curso de Jornalismo a uma caloura do mesmo curso que queria migrar para Publicidade: "Para que cursar Publicidade? Basta fazer um curso de 6 meses de coreldraw ou photoshop que você já é publicitária". Infelizmente pensamentos como esse e a falta de conhecimento sobre a área ainda imperam. A publicidade possui várias áreas de atuação como marketing, planejamento de campanha, atendimento, produção em rádio, tv e cinema, mas talvez no segmento de criação de peças gráficas, justamente a área da Publicidade de que mais gosto e na qual trabalho, é que o desconhecimento e a desvalorização parecem ser maiores.
É lamentável, mas muitos pensam como aquele estudante de jornalismo. Acham que para ser publicitário, especialmente da área de criação, só é preciso saber operar programas como coreldraw e photoshop. Sim, realmente existem pessoas que nunca cursaram Publicidade e Propaganda e que entendem destes programas muitas vezes até mais do que publicitários formados. Porém entender destes softwares não torna ninguém publicitário. Fazer um curso de 6 meses de coreldraw e/ou photoshop pode até deixar alguém mestre nestes programas e fazer com que a pessoa conheça e domine todos os truques e efeitos, mas não é em cursos como esses que você aprenderá sobre psicodinâmica das cores e tipologia das fontes. Só um publicitário formado ou que ainda está cursando Publicidade sabe quais são as cores certas na hora de compor um anúncio. Não há dúvidas de que a cor exerce papel importante no psicológico de cada um. As cores são usadas para estimular, acalmar, afirmar, negar, decidir, curar e, no caso da propaganda, vender. É sabido que temos reações e sensações diferentes para cada cor. Por, exemplo o vermelho é uma cor que excita, aquece e desperta a fome, enquanto o azul-claro acalma e transmite refrescância. Sem dúvida tomar como base os estudos e as associações psicológicas do homem diante das cores é importante no momento da criação de um anúncio, uma embalagem ou qualquer que seja a peça publicitária. A linguagem da cor é um meio atrativo que atua sobre o subconsciente dos consumidores. E nestes cursinhos de programas de edição de imagens também não se aprende sobre quais as fontes adequadas para cada tipo de peça, sobre como diagramar e distribuir elementos dentro de uma criação para que esta se torne atrativa e agradável visualmente. Resultado: peças gráficas poluídas, de mau gosto, com cores e fontes inadequadas, produzidas por pessoas que pensam que entendem do assunto. O que algumas pessoas não entendem é que produzir seu próprio material publicitário, embora mais barato, não agrega todos os benefícios que esse material poderia trazer se fosse realizado por profissionais competentes.
E não é só conhecimento sobre significado das cores e tipologia das fontes que o publicitário deve ter. É preciso ter conhecimentos também sobre psicologia e principalmente sobre a língua portuguesa. Deve-se estudar o comportamento dos consumidores; sobre quais são as razões de fundo psicológico que os levam a comprar e como mexer com suas emoções. Para isso é preciso deixar de lado preconceitos e ideias fechadas, como por exemplo, aquelas ideias de que todos os homens são iguais e de que todas as mulheres são iguais. Um pensamento assim é fechado, retrógado e simplista demais. É óbvio que se analisarmos um grupo de mulheres notaremos várias coisas em comum, como gostos e experiências. Mas apesar das semelhanças, não podemos esperar que todas sejam iguais porque cada uma traz consigo uma bagagem cultural própria, conhecimentos e experiências distintas, de acordo com o ambiente que foram criadas. Também devemos levar em consideração outros fatores como religião, regionalismo e classe social. O mesmo se diz dos homens. Apesar das semelhanças, as pessoas jamais serão totalmente iguais justamente por causa destes fatores que foram citados, que moldam a personalidade de cada um, criando vários estilos de vida, tribos e valores diferentes. Há o público infantil, jovem, adulto, idoso, masculino, feminino, de classe baixa ou alta, enfim, há uma infinidade de grupos e tribos, fazendo com que a publicidade seja segmentada, cabendo ao publicitário conhecer o público ao qual se dirige. A maneira de se criar uma peça publicitária para uma ortodoxa dona de casa, esposa e mãe, submissa ao marido e aos filhos é totalmente diferente da maneira de se compor uma peça para uma mulher jovem, solteira, moderna e independente financeiramente.
Conhecer e dominar a língua portuguesa não é só dever de jornalista e de profissionais de Letras. Escrever uma redação publicitária requer conhecimento da língua e uma cuidadosa seleção lexical, afinal palavras são sedutoras, podem tanto atrair como afastar.
Espero ter contribuído de certa forma, com este texto, para acabar com os "achismos" que ainda predominam e que a publicidade, em especial a área de criação, não é uma tarefa arbitrária e que exige apenas o domínio de programas de edição de fotos, e sim uma arte, uma técnica que exige muito estudo, conhecimento sobre os significados das cores e as sensações psicológicas que elas despertam nos seres humanos, sobre signos e semiótica, língua portuguesa, sociologia, filosofia e psicologia, aliando sempre o conhecimento empírico ao conhecimento científico.

domingo, 23 de maio de 2010

Figuras históricas de Cruz Alta




A grande maioria das escolas do município de Cruz Alta, região noroeste do Rio Grande do Sul, leva o nome de algum personagem histórico da cidade, porém os cruz-altenses muitas vezes desconhecem quem foram estes personagens e qual foi a importância deles para a cidade.


Um exemplo disso é a professora Margarida Pardelhas, cuja importância para o desenvolvimento da educação em Cruz Alta foi fundamental. A Escola Margarida Pardelhas, que leva o nome desta ilustre mestra, nem sempre se chamou assim. Margarida Pardelhas nasceu em 4 de maio de 1886 na cidade de Porto Alegre. Era filha de José Pardelhas e Simpliciana Pardelhas. Veio para Cruz Alta em 1904 como professora do Colégio Distrital onde trabalhou até ser nomeada diretora do colégio, que recebeu o nome de Colégio Elementar Venâncio Aires. Foi diretora deste estabelecimento de ensino durante 19 anos. Como diretora permaneceu até 1933 ao ser transferida para Porto Alegre, sua terra natal, onde fundou a atual Escola Normal 1º de Maio. A seguir foi para Pelotas como diretora da Escola Normal Assis Brasil e lá permaneceu por quatro anos. Em Cruz Alta lecionou 25 anos, onde completou seu jubileu. Quando foram criadas as delegacias de ensino em 1939, foi convidada para escolher a sede que lhe caberia como dirigente de uma delas. Escolheu a 9ª Delegacia Regional de Ensino em Cruz Alta. A mestra e professora Margarida Pardelhas, no alto desempenho de sua função como delegada, à frente da 9ª Região Escolar, que organizou como titular o cargo uma notável administração, veio a falecer em 7 de julho de 1942. Era solteira e deixou os familiares tristes, porém orgulhosos de suas ações. O Colégio Elementar Venâncio Aires, da qual fora fundadora, após sua morte, prestou sua mais sincera homenagem perpetuando para sempre seu nome. Foi assim que o Colégio Elementar de Cruz Alta, pelo decreto nº 741 de 27/03/1943, passou a denominar-se Grupo Escolar Margarida Pardelhas, em homenagem àquela ilustre mestra que tanto esforço dispendia para elevar cada vez mais o ensino.


Outro personagem que deu nome a uma escola da cidade é o professor Heitor Annes Dias. Filho de Lúcio Annes Dias e de Balbina Lopes Dias, nasceu em Cruz Alta, em 19 de julho de 1884. Fez seus estudos de Humanidades no Ginásio Conceição de São Leopoldo. Ingressou aos 14 anos na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, integrando a 2ª turma de alunos por ela diplomados em 1905. Formou-se também em Farmacologia. Aos 21 anos casou-se com Carolina de Revoredo e fixou residência em Cruz Alta. O casal teve dois filhos: Carmem e Cássio Annes Dias. Em 1908, com 23 anos após brilhante concurso, foi nomeado professor de Medicina Legal e Toxicologia, iniciando a sua bem sucedida carreira de professor em Porto Alegre. A seguir foi indicado para a cadeira de Medicina Legal na faculdade de Direito. Durante nove anos lecionou esta disciplina. Em 1917 viajou para a Europa, onde ocorreu a transformação do bom professor de Medicina Legal no grande mestre de Clínica Médica. Ao retornar, em 1918, após proveitoso estágio nos hospitais de Paris, onde esteve a serviço do maior mestre da medicina francesa contemporânea, Widal, foi indicado provisoriamente para a Cátedra (cargo ou função de professor de disciplina de nível universitário, ocupado por professor titular) da 3ª Clínica Médica. Começa aí uma nova etapa para a medicina gaúcha. De 1919 a 1934, quando eleito deputado à Constituinte, embarcou para o Rio de Janeiro, exerceu a Clínica, lecionou e escreveu seus primeiros livros. Em 1934, a Medicina venceu a política e o professor foi transferido para a Universidade do Brasil, na capital federal. Lá seu talento pôde atingir a plenitude do amadurecimento e a sua obra tornou-se mais plena. Annes Dias foi, acima de tudo, um professor e um investigador. Ensinava com competência e sabedoria. Poucos cruz-altenses sabem, mas Annes Dias foi o primeiro médico brasileiro que mostrou as vantagens e os benefícios que o laboratório traz, como coadjuvante da medicina e da cirurgia e o criador de um capítulo novo da medicina mundial: a metereologia clínica.