domingo, 21 de setembro de 2008

As mulheres na música













































O mundo de forma geral é machista, como todos sabem. Em muitas áreas, os homens obtêm mais reconhecimento do que as mulheres, e no universo da música não poderia ser diferente. Na música brasileira, não se nota esse "machismo musical", pois temos cantoras consagradas e inesquecíveis como Elis Regina, Rita Lee e Ivete Sangalo. Porém, se você pedir que eu cite agora o nome de uma cantora de reggae, ficarei lhe devendo uma sugestão, pois só me veio à mente nomes como Bob Marley e Peter Tosh. Já no pop, as mulheres foram e ainda são muito valorizadas. O maior ícone feminino deste gênero é Madonna, mas Alanis Morissette (que também "flertou" com o rock), Blondie, Cyndi Lauper (considero-a como a própria personificação dos anos anos 80) e Tina Turner tiveram carreiras extremamente bem sucedidas. O jazz também tem suas musas como Billie Holiday e Etta James.
Mas o terreno musical que mais quero explorar é o rock, pois é nele que muitos homens brilharam e foram venerados, enquanto muitas artistas femininas passaram despercebidas. Quando se fala em rock n’ roll, a primeira e talvez única mulher que as pessoas lembram é Janis Joplin, enquanto outras artistas não menos talentosas tiveram seus trabalhos pouco reconhecidos ou totalmente ignorados.
Quando falamos em rock dos anos 60 e 70, são citados artistas como Beatles, Creedence Clearwater Revival, Led Zeppelin, Pink Floyd, Rolling Stones, e é claro, Janis Joplin, mas quem cita Birtha, Fanny, Heart, Suzi Quatro e The Runaways? Claro que estas tiveram certo reconhecimento, mas nem metade do que Janis e as bandas de vocal masculino citadas tiveram. No folk, Bob Dylan é bastante cultuado, enquanto Joan Baez e Joni Mitchel são menos cultuadas do que ele, o que não significa que não tenham uma legião de fãs, mas acredito realmente que elas sejam menos reconhecidas do que Dylan.
No hard rock dos anos 80, bandas como AC/DC, Bon Jovi, Guns N’ Roses, Motley Crue e Poison faziam muito sucesso, já artistas e bandas como Girlschool, Lee Aaron, Lita Ford, Rock Goddess e Vixen tiveram menos reconhecimento. E assim aconteceu em todas as vertentes do rock. No metal e heavy metal, Metallica e Iron Maiden reinavam absolutos, porém o mesmo não aconteceu com a banda Warlock nem com a carreira solo da vocalista Doro Pesch, assim como a banda Phantom Blue. Para que não haja mal entendidos, digo o mesmo que falei sobre Joan Baez e Joni Mitchel sobre a banda Warlock e a vocalista Doro Pesch, sei que tanto a banda quanto a carreira solo de Doro têm inúmeros admiradores e reconhecimento, mas o que quero dizer é que ambas não chegam ao mesmo patamar de sucesso de bandas como Metallica e Judas Priest, o que de maneira alguma faz com que sejam menos importantes. Aliás, nesse sentido, já perdi as contas de quantas vezes já editei esse texto, não só para corrigir erros de português e de digitação, como também reformulando e acrescentando frases para não ser mal interpretado. Minha opinião não é que as mulheres do rock e de suas mais variadas vertentes não têm o seu lugar na música e que tenham passado totalmente despercebidas, o quero dizer é que elas têm menos reconhecimento do que Janis Joplin e do que os homens. Por exemplo: é óbvio que quem aprecia o rock dos anos 60 e 70 conhece Jefferson Airplane e Suzi Quatro, mas estes não são tão cultuados quanto Janis e as bandas com vocal masculino. Já a banda Birtha passou despercebida, tanto é que somente esse ano tive conhecimento desse grupo, que por sua vez tem ótimas músicas e uma vocalista com uma grande voz. Óbvio também que as pessoas que gostam de hard rock, curtem ou pelo menos conhecem Lita Ford e Vixen, mas é evidente que elas tiveram menos sucesso do que Motley Crue e Poison. Essa é a idéia central do texto, de que nem todas as mulheres passaram despercebidas no rock (embora algumas passaram totalmente despercebidas sim), mas acredito que a grande maioria não teve a mesma consagração de Janis Joplin e das bandas formadas por homens.
Quando o grunge explodiu nos anos 90, as bandas mais famosas deste gênero eram Alice In Chains, Nirvana e Pearl Jam. Até que as garotas do L7 resolveram marcar presença no grunge e junto com elas bandas como Hole e Babes in Toyland, porém o sucesso que obteram era mais alternativo e underground, enquanto as bandas grunge formadas apenas por homens faziam um sucesso altamente comercial. E nessa mesma época surgia o brit pop, que revelou ao mundo grupos como Oasis, Blur e Suede, e a única mulher que me recordo de ter feito parte desta “invasão” de artistas da Inglaterra é PJ Harvey.
Mas é justamente nos anos 90 que as coisas começaram a caminhar para uma evolução. As mulheres do rock e de suas mais variadas vertentes começaram a ser mais reconhecidas. No chamado metal melódico, no qual se destacam bandas como Blind Guardian e Helloween, um novo jeito de se fazer este tipo de som chamou a atenção dos amantes do gênero. Eram bandas com guitarras pesadas que constrastavam com a voz suave e lírica das vocalistas, como é o caso das bandas After Forever, Nightwish e Within Temptation. Ainda na década de 90, cantoras e bandas com vocal feminino dominavam as paradas. É o caso de Alanis Morissette, Björk, Gargabe, No Doubt, Roxette, Sheryl Crow, Sinead O’Connor e The Cranberries.
Foi bom ter falado em Sinead O’Connor. Um dia faço um texto para falar apenas sobre ela, mas aproveitando esse texto aqui, na minha opinião esta polêmica e controversa cantora teve umas das atitudes mais corajosas que alguém do show business já teve. Sinead de certa forma acabou com a própria carreira quando rasgou a foto do Papa João Paulo II no programa Saturday Night Live como forma de protesto contra os padres da Igreja Católica que abusavam de crianças. Alguém mais se atreveria a fazer isto em uma época em que a Igreja Católica era ainda mais influente e respeitada do que é hoje? Bem, continuo dizendo que a atitude mais corajosa que alguém já teve no mundo das estrelas da música foi tomada por uma “simples” mulher careca e não por um roqueiro “machão”. E rasgar a foto de um Papa tão amado como foi João Paulo II e ir contra a Igreja Católica é uma atitude mais ousada, corajosa e digna de admiração do que comer morcegos. Alanis Morissette se tornou famosa por escrever músicas confessionais, mas Sinead O’Connor já fazia isso muito antes, em suas músicas de alto teor pessoal, onde falava dos abusos que sofria por parte da mãe. Liz Phair, uma cantora indie da década de 90, também seguia esta mesma linha antes de Alanis ficar famosa, porém nunca teve sucesso comercial. Para quem nunca ouviu falar em Liz Phair, recomendo que escutem a música “Flower”. Nem Madonna, que é tão sensual e ousada, jamais fez uma música com conteúdo semelhante ao de “Flower”.
Enfim chegamos aos anos 2000 e vemos a nova geração escutar Evanescence e Pitty (com suas letras feitas sob medida para adolescentes em fase de formação de personalidade e mensagens cheias de auto-afirmação, exatamente como os teenagers gostam). Pode ser apenas impressão minha, mas talvez a geração de hoje tenha menos preconceito com as mulheres na música e escute tanto bandas lideradas por vocalistas homens quanto mulheres. Então, depois de várias décadas de batalha, as mulheres na música, especialmente no rock, conquistaram seu lugar e hoje em dia tem seu espaço garantido.
Não gosto das cantoras que os adolescentes idolatram hoje em dia, sou retrô mesmo e não nego. Às vezes se eu me distraio, se eu não me vigio um instante, eu me transporto para perto de cantoras de outras épocas, que faziam música com mais honestidade...