quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Cynthia surgia na escuridão, há um ano atrás



No verão de 2000, estava eu em meu quarto zapeando pela tv, quando vejo em um canal, um vídeo clipe no qual aparecia uma mulher de cabelo vermelho berrante ao som de uma bela música lenta. A canção me agradou e a imagem daquela mulher exótica me chamou atenção. Peguei papel e caneta para anotar. O nome da música era "Time After Time" e a cantora era Cyndi Lauper. Acho que é a partir daí que começa a minha história...
Aqui estou eu exata e vergonhosamente um ano após a apresentação de Cyndi Lauper em Porto Alegre escrevendo sobre aquele inesquecível show que marcaria a minha vida para sempre. Já aviso antecipadamente aos fãs da cantora que, antes de me jogarem pedras quando lerem algo neste texto que não concordem, lembrem-se que a internet é um meio de comunicação democrático, então sinto-me livre para expressar minha opinião sobre o show neste blog.
Ainda no mesmo ano de 2000, assisti a um documentário sobre a vida de Cyndi. A admiração foi instantânea. Sua vida não foi nada fácil antes de atingir o estrelato. Discriminada por ter pais divorciados, Cyndi sofreu humilhações em escolas católicas onde estudava. Ela conta que, certa vez, quando era criança, ao brincar de massagear uma coleguinha, foi surpreendida por uma freira que a chamou de lésbica. Baixou suas calças e a humilhou diante de todos. Cyndi disse que nem sabia o que significava a palavra lésbica. Nesse mesmo documentário, descobri que já conhecia a música "Girls Just Want To Have Fun" (que simplesmente "grudou" em minha mente), além de descobrir músicas como "Money Changes Everything" e "True Colors". A imagem incomum de Cyndi; com cabelos coloridos e roupas irreverentes, seu jeito de ser ora cômico ora sensível e sua trajetória me conquistaram de imediato. Então passei a comprar cds e dvds, e constatei toda a potência da voz de Cyndi ao vivo, bem como sua presença de palco, sua entrega e simpatia com o público. Assim estava formada a imagem de Cyndi Lauper em meu imaginário: uma mulher alegre, espalhafatosa, usando roupas e cabelo incomuns, humanitária e humilde.
No inverno de 2008, começaram os boatos de uma turnê de Cyndi no Brasil, que passaria por Porto Alegre. Não demorou muito para que a turnê se confirmasse, para a minha alegria e também desespero. Desempregado, como arranjaria dinheiro para ir ao show? Tempo era o que não me faltava, pois o show aconteceria no dia 19 de novembro. Surgiram entrevistas de emprego e de estágio, mas nada foi concretizado. Lembrei-me da cena do filme "...E o Vento Levou" em que Scarlet O'Hara agarrando uma cenoura perto de uma árvore, diz algo como: "Por Deus eu juro, nem que eu tenha que matar, roubar, mentir, trair, jamais sentirei fome novamente!". Estava desperado diante da falta de dinheiro, mas ao mesmo tempo coloquei em minha cabeça que iria a esse show de qualquer maneira. Minhas expectativas quanto ao show eram as melhores, e imaginei que se eu fosse, seria o mais jovem dos fãs na platéia, pois achava que os adolescentes de hoje não conheciam Cyndi Lauper e a maioria das pessoas teria acima de 30 anos. Consegui uma grana, comprei o ingresso e numa terça-feira, dia 18 de novembro, embarquei em um ônibus rumo a Porto Alegre.
Ansiedade e expectativa eram sentimentos inevitáveis. Hospedei-me no apartamento de uma amiga e à noite, eu, ela e seu namorado assistimos aos dvds "Live In Paris" de 1987 e "At Last... Live", de 2004. Ambos ficaram encantados com a presença de palco o jeito irreverente de ser de Cyndi em "Live In Paris", como também se surpreenderam com sua ótima performance vocal em "At Last... Live". Começamos a discutir se o show lotaria ou não. Minha amiga disse que não; seu namorado imaginou que sim, e que o melhor seria eu ir bem antes do horário marcado para o início do espetáculo, afim de conseguir um bom lugar.
Na quarta-feira, dia 19, o dia do tão aguardado show, a ansiedade e a expectativa triplicaram. Por algum motivo, comecei a achar que poucas pessoas compareceriam ao show; então não precisaria ir tão cedo, visto que o show estava marcado para às 21 horas. Não lembro o horário exato, mas creio que lá pelas 18 horas e 30 minutos, peguei um táxi e me fui rumo ao Teatro Bourbom Country. Chegando lá, frustrei-me com a pouca quantidade de pessoas na fila. Entrando no teatro, poucas pessoas lá se encontravam (aliás, para a minha sorte, foi permitida a entrada de câmeras digitais). Fui para a frente da pista, onde tinham estruturas de ferro que separavam a pista do palco. Tentava enxergar a distância entre a pista e o palco mas não conseguia, torcendo para que fosse a menor possível. Comecei a conversar com duas gurias da cidade de Viamão. Comentamos sobre a escassez de pessoas no teatro, mas elas acreditavam que ainda era cedo e que o público chegaria mais perto das 21 horas. Ficamos imaginando qual seria a primeira música que Cyndi Lauper cantaria, se entraria no palco exatamente no horário marcado etc. Quando me dei conta, a quantidade de pessoas no teatro era enorme. A pista ficou lotada, assim como o mezanino e a área vip. Qualquer movimentação no palco fazia com que o público pensasse que já era Cyndi Lauper e gritavam seu nome histericamente. Essa expectativa e ânsia para que inicie logo o show é indescritível. E a gritaria continuava cada vez quem alguém entrava no palco afim de ajustar algum equipamento. Imaginei que quando iniciasse o show, um telão e um jogo de luzes apareceriam no palco criando expectativa, a banda faria uma introdução e então Cyndi entraria no palco. Mas para a minha surpresa...
Às 21 horas em ponto, Cyndi Lauper apareceu no palco. Sem luzes, sem banda, apenas ela. Ela falava algo em inglês que eu não conseguia traduzir, e parecia estar descontente com algo. O público delirava. Cyndi repetiu a indecifrável frase várias vezes e eu cheguei a pensar que ela não queria câmeras fotográficas na platéia (afinal eu ouvi um boato que Cyndi estava blasé). Então, iniciou-se o show, com a clássica oitentista “Change of Heart”. Os fãs enlouqueceram. Inesperadamente, Cyndi desceu do palco e ficou na distância mínima que separava o palco da platéia. Ia de um lado para outro, pegando nas mãos das pessoas. Tentei o máximo que pude ir para a primeira fileira para ao menos encostar em sua mão, mas não obtive sucesso. Cyndi, no início do show, parecia estar irritada, mas não descontou no público e não demorou para que fizesse suas clássicas “dancinhas” exatamente como as que eu via nos dvds. Logo após “Change of Heart”, Cyndi cantou algumas músicas de seu último cd, “Bring Ya to the Music”. O público sabia de cor as letras, ao contrário de mim, que sou um fã saudosista e esperava mais pelos clássicos dos anos 80. Cyndi desceu várias vezes para a frente da platéia, e todos da primeira fileira pegaram em sua mão. Tentei várias vezes, sempre sem sucesso. Foi aí que me arrependi de não ter ido mais cedo. Apesar de estar em uma posição privilegiada, onde via tudo de perto, não consegui tocar em sua mão nem trocar palavras com ela. Um guri que estava na platéia comentou: “Ela é do povão, por isso eu gosto dela”. Eu concordo.
Depois de cantar músicas do último álbum, Cyndi tocou “All Through The Night”, clássico do cd de estréia “She’s So Unusual”, de 1983, para o delírio dos fãs mais retrôs como eu. Em “She Bop”, se não me engano, a pobrezinha derrubou o pedestal e fez uma carinha de desconcertada. À certa altura do show, os fãs cantaram “Happy Birthday To You” e não entendi por quê, afinal seu aniversário é em julho. Muito legal da parte de Cyndi ter cantado músicas que não estavam incluídas em seu repertório apenas porque os fãs pediram (creio que “Shine” e “Good Enough”, esta última sucesso da década de 80 que não podia faltar). Com uma energia inesgotável e grande potência vocal, Cyndi Lauper colocou o público do teatro abaixo quando cantou hits como “Money Changes Everything”, “Girls Just Wanto To Have Fun”, “Time After Time” e “True Colors”. Não apenas Cyndi é merecedora de elogios, o público também o é (aliás, para a minha surpresa eu não era o mais novo na platéia. Havia uma grande quantidade de adolescentes). As pessoas cantavam animadíssimas, gritavam, vibravam e pulavam do início ao fim. Pareciam hipnotizados pela presença de Cyndi. Também não poderia ser diferente. Há como ficar parado e triste em um show de Cyndi Lauper? No final, todos deixaram o teatro com sorrisos estampados no rosto, elogiando e satisfeitos com a apresentação.
Críticas de minha parte? Sim. Achei que o show poderia ter uma produção melhor com direito a telão, jogo de luzes e troca de roupas. Sim, eu sei também que muita gente vai dizer que Cyndi não precisa disto, e que hipnotiza a platéia apenas com sua presença e voz, ao contrário de outras cantoras que compensam sua deficiências vocais com shows onde o forte são as imagens e as mega-produções. Porém, uma produção melhor não faria mal algum ao show de Cyndi. A Cyndi Lauper que eu tinha formada no meu imaginário corresponde à Cyndi que vi ao vivo? Sim, mas talvez um pouco menos simpática e sorridente do que esperava. Também achei frustrante a maneira como ela entrou no palco, mesmo sabendo que a culpa não foi dela. Uma estrela da música jamais deveria entrar no palco na total penumbra (somente quando retornei para casa, através do orkut, descobri que não ligaram as luzes quando Cyndi entrou, e que a tal frase indecifrável era: “Can I have a light?”. Também descobri que o público estava cantando “Happy Birthday To You” para o filho de Cyndi, Declyn, que estava de aniversário naquele dia). Talvez fosse desnecessário a presença de outra mulher na banda, a tecladista e backing vocal. Cyndi deveria ser a única mulher.
Hoje completa um ano do show de Cyndi Lauper. E toda vez que lembro dele, não importa o quão mal-humorado esteja, um sorriso me vem ao rosto. Afinal não é sempre que podemos ver tão de perto alguém que faz parte de nosso imaginário e que achávamos que nunca veríamos ao vivo. E tomara que um dia Cyndi retorne ao Rio Grande do Sul. Dessa vez com as luzes bem acesas.

domingo, 31 de maio de 2009

Esperando pelos cheques

Pensamento positivo realmente é benéfico para nossas vidas, mas não creio que cause milagres dignos de filmes hollywoodianos como pregam os livros de auto-ajuda. Em 2007, o livro O Segredo e o documentário homônimo viraram uma verdadeira febre mundial vendendo milhões de exemplares pelo mundo afora. Eu, que sempre tive aversão à literatura de auto-ajuda, imediatamente reprovei o livro e critiquei-o exaustivamente. Mas decidi que para ter ainda mais argumentos para fazer comentários desfavoráveis sobre o fenômeno O Segredo, deveria ler o livro antes de postar este texto no blog. Foi o que fiz semana passada. E o conteúdo de O Segredo era exatamente o que eu esperava que fosse.
Lares perfeitos, amores como você sempre sonhou ter, carros, empregos e promoções. Segundo o livro, você pode ter tudo isso em sua vida desde que pense positivo. Pessoas que viviam na mais completa miséria deram seus depoimentos dizendo que viraram milionários como em um passe de mágica. Outras contam que tinham doenças incuráveis e graças à força do pensamento livraram-se delas do dia para a noite. E aí você lê coisas como: “não importa quem você é ou onde está. O segredo pode lhe dar o que você quiser”, “O Segredo lhe dá tudo o que você quiser: felicidade, saúde e riqueza” e “tudo o que entra em sua vida é você que atrai por meio de imagens que mantém em sua mente”. Até aí tudo bem. O problema é quando li depoimentos de pessoas que afirmam que recebiam cobranças diariamente pelo correio, mas depois de lerem O Segredo passaram a receber cheques milionários por correspondência. O riso foi inevitável após ler tamanho absurdo. E os absurdos que me causaram gargalhadas não param por aí. De acordo com O Segredo, uma pessoa é obesa não por sua genética ou pela quantidade de comida que consome, e sim porque tem “pensamentos obesos”, pois se tivesse “pensamentos magros” seria magra.
O que o livro prega basicamente é que se você passar a pensar positivamente, sua vida mudará, você será milionário e terá tudo o que quiser. Se pensar sempre de forma positiva fosse a solução para nossos problemas, seria ótimo. Mas sabemos que na prática as coisas são diferentes e ainda não foi inventada uma fórmula mágica para que sejamos felizes o tempo inteiro. O pensamento positivo não tem nenhuma contra-indicação e faz bem a saúde mental, mas não é uma garantia que tudo vai dar certo em sua vida. A vida é cheia de acasos, coincidências e acontecimentos inesperados, e garanto a você que não há pensamento positivo que possa evitar certos fatos. E contrariando aquilo que a lei da atração afirma no livro, de que tudo de ruim ou bom que nos acontece é porque nós mentalizamos e consequentemente atraímos, todos sabemos que podemos sair de casa felizes, achando que tudo vai dar certo naquele dia, e mesmo assim sermos atropelados em uma rua qualquer; bem como podemos estar mal-humorados e pessimistas e de repente as coisas começam a dar certo (essas questões não são respondidas no livro, e as pessoas que acreditam no conteúdo dele também não sabem responder, ao menos de maneira convincente). Realmente acho que uma pessoa otimista tem mais chance de alcançar seus objetivos em comparação a uma pessimista, mas não por uma questão mística ou algo do gênero, e sim porque a pessoa otimista não desiste facilmente de seus propósitos por acreditar que vai dar certo, já a pessimista não sai do ponto de partida em busca de suas metas pelo medo do fracasso. Agora afirmar que o pensamento positivo faz com que você sempre consiga tudo o que deseja é ingenuidade, para dizer o mínimo. Algumas pessoas bem-sucedidas na vida falam que outras não se esforçam e não batalham pelo que querem. Em alguns casos até pode ser esta a causa do fracasso, mas em outros não. Há pessoas que batalham anos por um emprego ou por outro objetivo, mas jamais os conseguem. Enquanto outras conquistam o que querem em um piscar de olhos. Não precisam batalhar, as oportunidades simplesmente surgem para elas. Se isso é uma questão de sorte, de puro acaso ou mística/espiritual, é uma questão do ponto de vista de cada um.
O livro recomenda também que, cada vez que um pensamento ou recordação que o deixar triste surgir em sua mente, você escute uma música que o alegre. Tente fazer isso no dia em que morrer alguém de quem você goste e você verá que não adiantará. E mesmo que adiante, essa felicidade seria momentânea e falsa, porque querendo ou não a dor de perder alguém querido virá mais cedo ou mais tarde. É como ir a uma balada no dia da morte de sua mãe para não sentir-se triste. Tentar fugir dessa dor é apenas protelar o período de luto, que é inevitável e virá com mais intensidade se não for vivido no momento certo.
Contudo, para a minha surpresa, nem todo o conteúdo de O Segredo é baboseira. Há algumas dicas relativamente úteis sobre auto-estima, como por exemplo não subestimar nossa própria inteligência e acreditar em nossa capacidade.
Enfim, poderia concluir dizendo que simplesmente detesto literatura de auto-ajuda e que livros como O Segredo são escritos sob medida para pessoas ignorantes, mas nesse caso estaria arrumando briga com aqueles que acreditam na ideologia de que o pensamento positivo muda tudo para melhor, e não é essa minha intenção. O que posso concluir com 100% de certeza é que não sou ingênuo o suficiente para acreditar que vivo em um conto de fadas no qual minha vida será repleta de momentos felizes em tempo integral e isenta de problemas após descobrir um segredo. Sim, acredito que pensamento positivo traz benefícios, mas não é uma garantia de que tudo vai dar certo, pois existe o acaso e várias outras coisas que independem de nós e que podem nos impedir de conseguir o que queremos. A vida é assim mesmo, alguns sonhos vamos realizar e outros não, talvez o segredo mesmo seja saber lidar com a frustração e seguir adiante. Acredito também que o conceito de felicidade é pessoal; e não uma receita que possa ser vendida em livros, revistas e documentários. Agora já posso dizer que li O Segredo, mas os cheques milionários ainda não chegaram na minha caixa de correio...